Nintendo - 22/01/2013

[Matéria] Majora's Mask - O lado sombrio da Triforce



A série The Legend of Zelda, aos olhares de observadores leigos, aparenta ser doce, colorida, e muitas vezes até rotulada como infantil. Os jogadores (e principalmente os fãs) sabem que isso não é exatamente verdade. Ao contrário do que parece, a série é extremamente densa, complexa, difícil (sim, difícil) e muitas vezes sombria.

Por trás do colorido dos gráficos e do visual fofinho que agrada aos olhos, estão escondidas lendas sombrias e muitas referências ao sofrimento e principalmente à morte. Algumas criaturas em especial fazem representações pesadas da maldição que paira sobre Hyrule de tempos em tempos. Os Skull Kids são crianças que se perderam em Lost Woods, por nunca conseguirem sair, se transformaram em criaturas feitas de folhas e madeira, camuflando-se em seu habitat, atacando todos que ousarem se aproximar; os Stalfos são pessoas que morreram nas florestas e foram reanimados com o único objetivo de matar quem cruzar seu caminho; e ainda tem o Stalchilds que são crianças que morreram em Hyrule e são ressuscitadas à noite também para matar.

Todo jogo, por mais colorido e vivo que seja, brinca com sofrimento, com a morte, e quando você se permite analisar as histórias mais profundamente, percebe que existe muito mais do que os olhos podem realmente ver.

Mas é em The Legend of Zelda - Majora’s Mask que a série encontra seu ponto máximo de “escuridão”. O próprio lugar onde se passa o jogo, o mundo de Termina, é sinônimo de distorção, uma vez que se apresenta como um universo paralelo, já que todos os personagens de Ocarina of Time estão lá, mas vivendo outras vidas, e com outros nomes. Mas não para por aí. Lendas dão conta de que o mundo de Termina representa os 5 estágios do luto.

Clock Town é a Negação – A maioria dos moradores não acredita que a lua realmente irá cair, e continuam vivendo suas vidas normalmente, ignorando este fato, e preparando o tão esperado Carnival of Time. Todos estão vivendo uma mentira, preparando um festival sem se darem conta realmente que o mundo está prestes a acabar.

E, como você chega à cidade em formato de Deku-Link, incialmente você é proibido de abandonar a cidade, alguns direitos lhe são negados. O próprio prefeito da cidade fica perambulando pelas ruas, tentando se convencer de que nada daquilo é verdade e que a lua não irá cair, destruindo tudo que encontrar pela frente.



Woodfall é a Raiva – Quando você chega ao pântano, ele está totalmente envenenado, a princesa Deku está desaparecida, e o Rei Deku e seus súditos estão extremamente raivosos, prontos para executar um macaco que eles acreditam ser suspeito de ter sequestrado a princesa.

Com seu mundo condenado, os Dekus não querem mais saber quem está certo ou quem está errado. Todos entraram em um estado de fúria permanente e nada parece poder reverter essa situação, a não ser que se encontre uma forma de recuperar o pântano, mas para eles, parece não haver mais solução. Os guardas do castelo também te tratam extremamente mal, e tente entrar em áreas proibidas pra você ver se eles não te jogam (literalmente) pra fora.



Snowhead é a Barganha – Assim que você chega à montanha, você encontra com um Goron morrendo de frio, que te pede comida de forma desesperada, pois ele está com "muita, muita fome", e é claro, se você providenciar comida para ele, ganhará algo em troca. Em seguida é a vez do fantasma de Darmani, e ele - acreditando que você pode fazer mágica - faz outra barganha, pedindo para que você o traga de volta à vida.

Assim começa sua jornada pelas montanhas geladas, que te levará a diversos outros personagens que precisam que você realize tarefas específicas para eles, em troca de algo que eles podem te oferecer, como o bebê Goron e até o ferreiro, que irá melhorar sua espada, mas só irá fazê-lo se primeiro você puder descongelar sua fornalha, tudo funciona na base da troca. Todos estão com frio, e precisam de ajuda e principalmente comida.



Great Bay é a Depressão – Great Bay é um lugar amplo e vazio. Link encontra com Mikau à beira da morte e ouve a história de Lulu, a vocalista da banda dos Zoras, que está reclusa e sem voz, por ter perdido seus ovos. Ela representa a depressão, que se espalhou por toda Great Bay, uma vez que Lulu era uma espécie de líder para todos eles. Enquanto ela estiver triste e sem voz, todos os Zoras compartilharão de sua tristeza.

Mikau também é uma criatura triste e depressiva, e morre com esse sentimento, por não ter conseguido encontrar os ovos de sua líder, pois o mar está turvo e os Zoras não conseguem mais nadar livremente, muitas vezes se perdendo e até morrendo naquele lugar que eles conhecem tão bem e é o único em que conseguem sobreviver.


Ikana Valley é a Aceitação – Quase todos em Ikana estão mortos e é o momento em que você encara a morte como um fato que não pode ser mudado. Ikana representa a essência do jogo, Todas as referências de morte que estão espalhadas pelo jogo são reforçadas nesta área, e as criaturas que permeiam aquele lugar, que são caveiras e múmias, são representações diretas da morte.

Link não encontra mais máscaras que podem transformá-lo em outras criaturas, sendo assim, ele consegue ser quem ele realmente é, e perceber finalmente que ele está trilhando seu próprio caminho, e não o dos outros, como ele estava fazendo anteriormente. Por mais que ele precise ajudar os moradores de Termina, em Ikana ele irá entender que no final da contas, ele está fazendo aquilo tudo para ajudar a si próprio, e poder sair daquele lugar que não é seu mundo real.



Vale lembrar que os estágios do luto se apresentam nessa ordem: Negação - Raiva - Barganha - Depressão - Aceitação, e é exatamente nessa ordem que você acessa as áreas do jogo.

Outra curiosidade sombria de Majora’s Mask é, logo no começo do jogo, quando você é transformado em Deku-Link, você encontra uma pequena árvore-deku morta, que aparenta estar muito triste, como se sua alma tivesse sido roubada (para ser colocada em sua máscara?), e durante o jogo, você é atendido por um mordomo Deku que te ajuda em sua jornada. Mesmo que você não esteja usando a máscara, ele fala que você lembra o filho dele, e que eles adoravam brincar de correr, e agora não podem mais fazer isso. Após o término do jogo, e apresentação dos créditos, uma cena tenebrosa é apresentada, onde o mesmo mordomo aparece ao lado da pequena árvore morta, com um olhar que mistura tristeza e raiva. Isso deixou todos os fãs intrigados, esperando por uma sequência, o retorno do mordomo, a explicação dessa trama, o que nunca aconteceu, e deixa toda a história ainda mais sombria e misteriosa.


Ou seja. The Legend of Zelda pode parecer infantil para o olhar desatento, mas esconde segredos que deixaria qualquer jogo de terror hardcore parecendo um passeio no parque. Se tudo isso foi meticulosamente planejado ou é uma simples coincidência, por enquanto nós não sabemos, afinal... This is but one of the legends of which the people speak.

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