A dualidade entre deuses e demônios explode em Shin Megami Tensei IV
Por André Aranovich
Voltando após um hiato de 10 anos a série principal de Shin Megami Tensei está aqui e dessa vez para um console da Nintendo. Ao invés de um título principal da franquia estar nos consoles de mesa, o Nintendo 3DS foi escolhido como o aparelho para sediar toda uma guerra de crenças entre deuses e demônios em que o jogador faz o papel de juiz.
Se existe algo que eu gosto muito em JRPGs é o desenrolar da trama, apesar delas serem clichês algumas delas surpreendem, e esse jogo é um desses casos. Ele começa com o personagem Flynn e seu amigo indo para a capital do Reino de Mikado para participar do Gauntlet Rite, cerimônia que reúne todos os jovens que estão fazendo 18 anos para ver quem possui a habilidades para tornar-se um samurai, que nesse mundo fictício são as pessoas que lutam contra demônios e que asseguram a paz no Reino de Mikado. A partir daí o jogo vai tendo um desenvolvimento gradual e que melhora a cada momento que passa.
Como todo jogo da série Shin Megami Tensei, a história possui várias referências religiosas - Sem nunca ofender nenhuma religião, fique claro - e momentos sombrios, que diferem bastante do que vimos inicialmente no Reino de Mikado. O jogo possui um sistema de alinhamento que interfere no final do jogo, então a história terminará, em teoria, da forma que o jogador querer. Mas tome nota que em vários momentos (Incluindo no final) ficará a cargo de quem está jogando compreender os fatos, a narração faz questão de montar uma opinião que o jogador deve seguir, dando certa versatilidade aos fatos.
Diferente de vários outros RPGs, esse jogo não cria várias side-quests que ajudam o jogador a se acostumar melhor com o mundo, não encontramos uma menina de um vilarejo com uma mãe doente e que necessita de ajuda, aqui temos uma exploração linear, igual qualquer outro JRPG, mas normalmente quando temos alguma conversação ela faz parte do enredo principal. Isso acaba criando grandes lapsos de história-gameplay, onde vemos uma cena de 10 minutos de diálogos importantes e vamos para mais 5 horas de exploração e lutas, o que pode parecer um pouco estranho para fãs de outras franquia de JRPG.
Acho que o único problema que atrapalha como o jogo progride é o "mapa mundi". Ele é confuso e fica difícil saber onde é atravessável ou não, além disso, quando o jogo manda você para determinado local, ele parece querer que você saiba exatamente onde fica tal localidade, como o mapa também não guarda o nome dos locais que já foram visitados, fica muito fácil se perder e necessitar de um mapa da internet para se achar. Todas as partes que os eventos me mandavam para uma nova localidade, eu já sabia que ali começaria uma tortura.
Para variar um pouco, em Shin Megami Tensei IV é possível conversar com os adversários (Como em outro capítulos da franquia) para recrutá-los. Existem diversos benefícios nisso e o jogo lhe obriga a estar sempre fazendo isso. Para conseguir demônios mais poderosos que os encontrados normalmente é possível utilizar um sistema de fusões, que nesse jogo é o Cathedral of Shadows, ele é uma forma aperfeiçoada dos sistemas anteriores, e permite filtrar de diversas formas os demônios, com isso fica ainda mais fácil montar qualquer tipo de estratégia a qualquer momento já que é possível procurar entre todos os demônios vistos aquele golpe necessário para derrotar alguns chefes, a Cathedral também pode proporcionar um bom passa-tempo para todos que resolverem explorá-la mais a afundo, tentando realizar todas as fusões possíveis.
Para ajudar o ritmo do jogo, o Gauntlet que é ganho no ritual permanece com o personagem durante a história toda, ele que é o COMP - Aparato técnico que invoca demônios - desse universo. Ele possui uma IA chamada de Burroughs que torna-se a parceira de Flynn. Somos capazes de comprar apps (Que são ganhos sempre que se sobe de nível) através da Burroughs, existem vários apps disponíveis de começo e qual deles comprar fica sempre a cargo do jogador, esses benefícios graduais que são obtidos ao longo do jogo tornam o ato de "subir de níveis" bem mais recompensador.
Outro ponto notável é a qualidade visual do jogo, para não vermos um show da queda de frame-rate que tivemos com Pokémon X & Y, a Atlus escolheu deixar todas as batalhas em primeira pessoa, com os inimigos na tela de cima e os stats do seu grupo na tela de baixo. Além disso, o jogo não possui nenhuma cena em CG ou em visual anime, todas as cenas são estáticas ou feitas como uma visual novel com efeitos de profundidade. Pessoalmente achei um resultado satisfatório e que combinou perfeitamente com o jogo. Quando conversamos com os outros demônios para recrutá-los, por exemplo, parece que eles estão quebrando a quarta parede e negociando diretamente conosco.
É difícil falar qualquer coisa além do que foi citado sem entrar no campo dos temíveis spoilers que aqui estragam de uma forma sublime o jogo, mas Shin Megami Tensei IV cumpre muito bem seu papel como J-RPG e possui uma história que faz jus a tudo aquilo que é apresentado. Sem dúvida deve ser conferido a todos aqueles que gostam de um bom J-RPG ou uma temática mais adulta e é um dos melhores jogos que o portátil tem a oferecer para essas pessoas.