“Deep into that darkness peering, long I stood there, wondering... fearing... doubting...” - Edgar Allan Poe

Imagina isso sendo falado por uma voz sinistra.

Essa é a citação que dá início ao jogo Eternal Darkness: Sanity’s Requiem. E é logo aí, bem no começo, que o jogo mostra o quão disposto ele está a testar todos os seus medos, e colocar sua sanidade à prova.



O game foi produzido para ser lançado no Nintendo64, mas por alguns atrasos e pelo fato do 64 não conseguir proporcionar tudo o que eles precisavam no momento, o projeto foi transferido para o GameCube. Por isso inclusive ele tem gráficos mais grotescos perto do que o Cube pode oferecer, mas se tem uma coisa que aprendemos com a Nintendo é que bons gráficos NÃO significam necessariamente bons jogos. Eternal Darkness vêm nos mostrar que consegue assustar com gráficos mais precários.

Tenha medo. MUITO MEDO.

A abertura do jogo é uma das mais bem planejadas da história dos games, ele começa como um filme, apresentando seus créditos iniciais (incluindo os nomes das empresas Nintendo e Silicon Knights) durante a cena, deixando tudo com um aspecto mais cinematográfico.


A personagem principal do jogo é Alexandra Roivas, e logo no começo do jogo você descobre que seu avô, Edward Roivas morreu de uma forma trágica e misteriosa, e precisa descobrir o que se esconde por trás desse brutal assassinato. Alexandra começa então a ler um livro na velha mansão de seu avô, chamado Tome of Eternal Darkness, que é uma versão do Necronomicon, famoso livro das criaturas antigas criado por H. P. Lovecraft.


Durante a leitura, Alex conhece diversos personagens que vivem em épocas diferentes, mas que compartilham uma ligação estranha com aquele livro e com a misteriosa morte de seu avô, e enquanto Alex lê, você joga com aqueles personagens. Aí está uma das maiores genialidades de Eternal Darkness, você joga não apenas com Alex, mas com mais 11 personagens, em diversas épocas diferentes, alguns deles acessando inclusive os mesmo lugares, mas em áreas e tempo diferentes. Sempre que um capítulo de determinado personagem acaba, você volta para Alex na mansão, e algum item especial usado pelo personagem aparece na sala fornecendo acesso a áreas antes impossíveis de alcançar.

Todos os personagens são jogáveis. GENIAL.

É claro que por ser um jogo de terror, Eternal Darkness conta com as mais bizarras criaturas, monstros, caveiras, fantasmas. Mas o terror do jogo é muito mais psicológico, e eles não estão felizes em brincar apenas com a sanidade dos personagens, e querer brincar também com a sanidade do jogador, e fazem isso de forma única e genial.


No menu do jogo você tem 3 barras de status: vermelha para vida, azul para magia e verde para sanidade.E no começo, até que se acostume com os sustos, você vai querer manter sua sanidade bem alta, acredite.

Quando a sanidade está baixa, os personagens começam a alucinar, e o jogador junto. O game provoca efeitos colaterais que mexem com a cabeça do jogador. A TV “desliga” sozinha, o volume fica aumentando e abaixando, você começa a ouvir gritos que vêm do nada, pessoas chorando, e tudo isso, na primeira vez, é extremamente perturbador.

Cenários inclinados são a marca registrada do game enquanto você está alucinando.

Durante o jogo, você coleciona runas que permitem que você possa realizar feitiços. Quanto mais runas, maior a combinação e mais elaborado é o feitiço. Você pode fazer magias para proteger armas, cercar inimigos e inclusive magias que detonam todos os monstros do ambiente, basta ter a combinação correta de runas. E o que é melhor, a barra de magia se regenera sozinha enquanto você anda.

As magias têm níveis de poder. Quanto mais runas você pegar, maior será o poder.

DIIIIIIIIIIIIE

No começo do jogo, você tem que escolher uma runa principal, Ulyaoth cujo poder é focado em magia, Xel’lotath poder focado na sanidade e Chattur’gha poder focado na força física. A escolha inicial decidirá o destino de sua aventura, porque quando você escolhe essa runa inicial você está jogando com Pious Augustus, o primeiro personagem da história que, ao entrar em contato com a runa sagrada, é corrompido pela criatura que vive nela e posteriormente irá usá-la contra você, e claro que a runa de Pious terá dominância sobre a sua. Elas funcionam por efeito de dominância e fraqueza, assim como acontece em Pokémon.

Da esquerda para a direita: Chattur'gha, Xel'lotath, Ulyaoth e Mantorok.

Isso faz com que o gameplay do jogo seja aumentado, porque você vai querer jogar uma vez com cada runa, e terminando as três vezes você libera uma cena especial no final.

Sua escolha se voltará contra você.

Existe uma quarta runa especial, Mantorok, que está escondida no jogo e não é obrigatória para a conclusão da história, mas é extremamente útil pois fortifica algumas magias, fazendo com que, em alguns momentos, você possa ficar até invisível, facilitando algumas missões. Achar Mantorok não é fácil, mas vale a pena.

Mantorok é nojento, mas pode confiar nele que ele é do bem.

O vilão está esperando o alinhamento dos planetas para libertar o monstro de sua runa, que virá do espaço e então dominar todo o planeta, causando caos e destruição. Quem já leu qualquer livro de H.P. Lovecraft irá se identificar, uma vez que todas as criaturas maiores são baseadas nos Antigos, monstros criados pelo escritor que são responsáveis pela criação (e destruição) do universo. Como você não pode impedir o alinhamento dos planetas, tudo que resta a você é se aliar a outro monstro, que não tem intenções nobres, mas irá destruir o monstro do seu inimigo.

Meu amigo monstro...quer dizer...mais ou menos.

Eternal Darkness é um jogo completo. Tem uma história densa e profunda, jogabilidade excelente, itens variados e de utilização inteligente, magia, sanidade, insanidade, um vilão que assusta e te faz temer por sua própria segurança e pela destruição do universo, personagens carismáticos e todos são jogáveis. Acabou se tornando um clássico do gênero e cultuado por milhares de fãs que estão até hoje esperando por uma continuação ou um remake. Uma das alucinações do game faz com que o jogo simplesmente acabe do nada e uma tela com a indicação de uma continuação é apresentada, mas esse segundo jogo nunca aconteceu. (não se preocupem, o jogo não acaba de verdade naquele momento, é apenas uma alucinação, tudo volta ao normal em alguns segundos).


Mas nós ainda queremos que essa saga continue, sabendo que ela ainda tem muito a apresentar.