[Matéria] O preconceito sobre personagens do sexo feminino
Por Mario Toledo
Durante a E3 deste ano, diversos novos jogos foram apresentados, incluindo muitos personagens nunca vistos antes - porém, em sua maioria, do sexo masculino. Ao comentar a respeito da falta de personagens mulheres protagonistas dos novos jogos apresentados pela Microsoft, o site Feminist Frequency recebeu no Twitter uma quantidade absurda de respostas machistas, que incluíam frases como "Mulheres não pertencem aos video-games", "Quando as mulheres forem tão capazes quanto os homens, então talvez haja" e até "Você esperava que houvessem jogos de cozinha e lavanderia na lista de lançamentos?"
Apesar de possuir uma grande parcela de rejeição devido a seus vídeos superestimados, o Feminist Frequency levantou uma importante questão a respeito de personagens do sexo feminino: qual a taxa de rejeição de protagonistas mulheres nos games?
Muitas desenvolvedoras desconsideram a possibilidade de criar novas personagens devido a errada visão de que o mercado de games ainda é dominado pelos homens. Uma recente pesquisa da Entertainment Software Association mostra que isto é inválido, uma vez que 46% do público gamer é representado por mulheres.
Jean-Max Morris, diretor criativo do futuro game "Remember me" (o qual é protagonizado por uma personagem mulher), passou por grandes experiências de rejeição em publishers, até que a Capcom aceitou seu trabalho. Segundo Jean, algumas publishers simplesmente disseram "Nós não vamos publicar o jogo porque ele não vai fazer sucesso. Você não pode ter personagens do sexo feminino no jogo. Precisa ser um personagem homem, simples assim". No caso de Remember me, não havia como voltar atrás na escolha do personagem, uma vez que o jogo já estava pronto, mas segundo Jean, "Não há nada de errado em jogar um jogo onde a protagonista é uma mulher. Não é como se sua orientação sexual fosse mudar por causa disto" (saiba mais no artigo original do GamaSutra).
"Remember me" sofreu uma grande rejeição das publishers por possuir uma protagonista mulher.
É claro que é fácil mencionar personagens mulheres icônicas, tal qual como Lara Croft. Mas no caso, a própria Lara é representada por seios fartos e calça curta, mostrando uma imagem vulgar da personagem - lembro claramente de meu primo jogando Tomb Raider no PSone só para aumentar o foco nos "países baixos" de Lara (coisa que foi corrigida no último jogo, onde a câmera só pode ser focada da cintura pra cima).
Chega a ser ridículo considerar que, no passado, gamers jogavam Tomb Raider pelo fator "erótico" que Lara possuía.
Este problema se estende até mesmo para jogos de MMO. Quem nunca conheceu um amigo ou conhecido que criou um personagem feminino apenas para ganhar itens e outras regalias de jogadores homens? Este tipo de coisa reflete nas considerações de desenvolvedoras ao desenhar personagens do sexo feminino nos jogos.
A Nintendo consegue se manter em bons lençóis neste assunto. Samus possui uma grande variedade de fãs (entre homens e mulheres), e Peach já possui uma grande independência na maioria dos jogos de Mario - além de ser uma personagem jogável em Mario Kart ou Super Smash Bros., a princesa é protagonista em Super Princess Peach.
Peach conquistou seu espaço através do tempo, chegando a ser protagonista de seu próprio jogo.
Para não preenchermos este artigo apenas com pensamentos masculinos, convidamos a Ana Luíza do site The Pink Geeks para expor uma visão do ponto de vista da mulher a respeito do tema:
Como nos filmes, séries, literatura e principalmente na vida, temos protagonistas de ambos os sexos. Por que não nos vídeo-games? Há tempos que as mulheres conquistaram um espaço efetivo na sociedade e é chato ver que tenhamos pensamentos extremamente sexistas até no "meio gamer". É relevante ter protagonistas de todos os jeitos, para que cada qual, com seu motivo, possa se interessar por aquele jogo tal e adquiri-lo. Ter protagonistas do sexo feminino mostra que as mulheres podem ser tão fortes quanto um homem, ou tão importantes quanto. Se a tendência nos games é representar uma fatia de vida, por mais fantasiosa que seja a história apresentada, não se deve ater a um conceito já ultrapassado de que apenas os protagonistas do sexo masculino são importantes. Quanto maior a diversidade, melhor.O fato é que muitas publishers possuem pensamentos antiquados. O League of Legends, da Ryot, possui uma grande diversidade de personagens homens e mulheres - e uma grande mistura de jogadores que indiferem pelo sexo do personagem.
Curiosamente, a maior parte da lista de personagens femininos parte de jogos japoneses - Final Fantasy, Kingdom Hearts, Dead or Alive e The King of Fighters são os campeões, talvez pela taxa de aceitação do público, acostumado por personagens mulheres em mangás shoujo (ou até mesmo shonnen).
Alguns homens podem se incomodar pelo fato de controlarem personagens mulheres nos jogos, mas a grande maioria das mulheres não se importam em controlar personagens homens em suas jogatinas - e devido a isto, os protagonistas masculinos ainda dominarão a presença nos jogos digitais.