[Matéria] Assassin's Creed e o sensacionalismo de Marcelo Rezende
Por Mario Toledo
Na última segunda-feira (5 de Agosto), o Brasil se chocou com a notícia de que Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, um garoto de 13 anos, teria matado os pais, a avó materna e uma tia e, depois, ter se suicidado em Brasilândia, Zona Norte de São Paulo. Uma acontecimento trágico, que se espalhou rapidamente através da mídia.
Ao relatar a notícia no programa Cidade Alerta, Marcelo Rezende fez questão de focar no fato de que o suposto assassino usava a foto de Ezio Auditore (protagonista de Assassin's Creed II, Brotherhood, Revelations e Discovery) como seu perfil no Facebook, e dedicou todo o tempo do programa para relacionar o fato do menino ter matado os pais devido ao fanatismo pelo jogo.
Marcelo Rezende dedicou o tempo em seu programa para ligar a tragédia ao fato do suspeito jogar Assassin's Creed.
Para variar, mais uma vez, a mídia voltada a massa se apegou ao recorrente assunto de que, supostamente, games com conteúdos mais violentos geram violência. Segundo Marcelo Rezende (e sua inexistente fonte de pesquisas), Assassin's Creed seria o jogo com maiores índices de proibição no mundo.
Não sabemos explicar como estes dados surgiram, mas uma rápida busca no Google mostram resultados completamente diferentes. Até Março deste ano, a série vendeu um total de 55 milhões de cópias, sendo que Assassin's Creed 3 vendeu 3,5 milhões de cópias em seu lançamento, se tornando o jogo da Ubisoft mais rápido a ser vendido.
1 mês antes da tragédia, o acusado trocou sua foto de perfil do Facebook para a foto de Ezio, ocasionando as acusações da mídia.
Existem diversas pesquisas que provam que jogos não incitam a violência - muito pelo contrário. Os jogos eletrônicos, assim como qualquer outro tipo de entretenimento, têm o propósito de divertir o usuário, e ainda por cima, contribuem não só para seu desenvolvimento social, como principalmente, seu desenvolvimento neural - uma busca por artigos acadêmicos no Google Scholar permite entender sobre o assunto.

Para defender a imagem da série, a Ubisoft públicou em sua página oficial no Facebook uma breve resposta sobre as acusações:
Em resposta aos pedidos de posicionamento da Ubisoft sobre o caso da família Pesseghini, trata-se de uma tragédia e nossos pensamentos e orações vão para a família e os amigos das vítimas. Nessa hora de consternação de toda a sociedade, é natural a busca por respostas.
No entanto, em nenhum estudo até agora realizado há consenso sobre a associação entre a violência e obras de ficção, incluindo livros, séries de televisão, filmes e jogos. É uma falácia associar um objeto de entretenimento de milhões de pessoas, todos os dias, em todo o mundo, com ações individuais e que ainda estão sendo esclarecidas. Novamente, isso é uma tragédia sem sentido e os nossos pensamentos e orações estão com a família e amigos das vítimas.
Agradecemos aos fãs da série que manifestaram apoio contra mensagens sensacionalistas associando o jogo à tragédia e convidamos a todos a se solidarizarem com a família e os amigos das vitimas.
A fim de ridicularizar o trabalho da mídia. muitos fãs da série (e gamers em geral) publicaram notícias fictícias de acontecimentos caso os jogos eletrônicos fossem os culpados de atos violentos. Confira uma breve seleção abaixo (via Assasin's Creed não é o culpado):
- Garoto de 12 anos rouba helicóptero do exército após jogar Battlefield 3;
- Jovem come cogumelo e mata tartarugas a pisoteadas em Pet Shop;
- Garoto de 13 anos entra em super-mercado e corta todas as frutas do estabelecimento, influenciado pelo jogo "Fruit Ninja";
- Jovem é preso por manter animais em cativeiro, influenciado pelo jogo "Pokémon";
Diversas imagens de notícias fictícias surgiram na internet para ridicularizar as acusações da imprensa.
Não é a primeira vez que um jogo eletrônico é culpado pelo ato de violência ocorrido na vida real. Para quem se lembra, a tragédia em Realengo também foi interligada ao fato de que o suspeito gostava de jogos em primeira pessoa, em especial, Counter Strike.
Este tipo de julgamento sempre vai acontecer pelas mídias sensacionalistas. Podemos parecer injustos com Marcelo Rezende, uma vez que o próprio G1 publicou uma nota sobre o caso - porém, o site notícias da Globo apenas citou o fato do menino usar a foto de Ezio em seu perfil, e não julgou sem precedentes.
Não sei exatamente o que se ensina em um curso superior de jornalismo. Porém, tudo isto é em vão quando qualquer assunto sensacionalista atinge o público melhor do que a relação de fatos e ocorrências. Todo acontecimento chocante é elevado a um nível extremamente alarmante por programas como o Cidade Alerta, e atinge pessoas como minha mãe, que não costuma sair de casa durante o dia, e acaba tendo a televisão como sua única fonte de informações - como explicar para ela que "jornalistas" como Marcelo Rezende possuem menos embasamento para falar sobre o assunto do que eu?