[Matéria] Pérolas do Wii - No More Heroes
Por André Aranovich
Nos meados entre 2007 e 2008 o Nintendo Wii já havia se mostrado sucesso absoluto de vendas, com seus altos números era inevitável não ver uma quantidade absurda de shovelwares, nunca foi tão fácil jogar um jogo de tênis genérico ou um "Horses/Turtles/Animal-que-dê-para-criar and me" como no Wii. O uso do Wii Remote para essas tarefas parecia ser a ideia mais genial e única que todas as produtoras tiveram. Em meio a esses tempos obscuros, alguns jogos saíram no console focando um público hardcore e No More Heroes foi um desses exemplares.
No More Heroes foi um jogo criado por Goichi Suda - Mais conhecido como Suda51 - que na época era conhecido por desenvolver Killer7 de PlayStation 2 e Nintendo GameCube. Ele tinha prometido que No More Heroes seria um jogo hardcore, cheio de sangue desnecessário e exclusivamente para os apaixonados, assim como ele, por video-games, e cumpriu a promessa com muito bom gosto. O jogo não ficou perfeito, mas era um ótimo colírio para todos os gamers que estavam órfãos de jogos decentes de third-party no Wii.
Para começar, o personagem principal do jogo é Travis Touchdown, um otaku que mora em um hotel e possui vários pôsteres de personagens moe espalhados pelo quarto, que acaba comprando um sabre de luz na internet e entra em um ranking de assassinos profissionais com o objetivo de ser o primeiro colocado no rank para poder sair com uma garota. Quer algo mais sem noção e fútil que isso?
Um resumo da história em uma imagem só.
A história do jogo nunca se faz a séria, e nem pretende fingir que isso acontece. Até a cenas finais do jogo fazem sátiras uma atrás da outra. Mas todas essas brincadeiras ajudam a colocar o jogo no lugar que ele merece, uma prova de amor de Suda51 ao mundo dos games. O jogo possui referências ao mundo dos 8-bits quando se passa de um lugar no rank, e ele, de certa forma, faz uma boa releitura sobre o sentimento de se salvar o jogo.
Quando estamos em uma situação difícil e faz tempo que não vemos um save point ficamos com o coração palpitando, precisamos ver um save point logo pois se der um apagão ou acontecer alguma coisa e o jogo voltar para a tela de início, vai ser uma situação frustrante. Quando estamos apertados para ir ao banheiro também ficamos com essa sensação desconfortável de querer mudar essa situação, e quando achamos um banheiro a sensação de alívio se instala. Com isso em mente, nada melhor que os save points de No More Heroes serem em banheiros, afinal, a sensação é perturbadoramente semelhante.
Merecendo uma menção honrosa aqui, quando o sabre de luz de Travis fica descarregado o jogador deve fazer movimentos que não poderiam ser feitos enquanto segura-se um Wii Remote no meio sala de estar para recarregar o sabre. Algo que poucos produtores fizeram com intenções tão maldosas e aparentes quanto aqui.
O jogo possui um estilo a parte, mas obviamente ele precisa de bem mais para ser um bom jogo, e No More Heroes acerta em quase tudo o que lhe é proposto. A tentativa de fazer Santa Destroy - Cidade fictícia em que o jogo ocorre - um open world semelhante ao de GTA é um erro enorme, o mundo exterior que serve de conexão entre os locais para enfrentar os assassinos e conseguir o dinheiro para pagar essas lutas poderia ter sido trocado facilmente por uma seleção de fases (Que foi o que aconteceu na sequência, No More Heroes 2: Desperate Struggle), pois andar com a moto que mais parece um caminhão do Travis não é nada natural e a cidade é completamente sem vida e limitada.
Mas o jogo não peca em sua essência hack'n slash, que é muito divertida. O objetivo de Travis é subir seu rank no ranking dos assassinos, e para isso ele deve assassinar o matador que está na superior a sua, o jogo começa quando ele mata o número 11, então serão mais 10 assassinos até o almejado primeiro lugar e, como é possível imaginar, cada um desses assassinos é um chefe de fase.
Para descobrir a localização de cada um dos assassinos é necessário fazer vários minigames repetitivos - Que funcionam como bicos que Travis faz - para juntar dinheiro e pagar pela informação do local. Depois dessa chateação, começa a parte boa do jogo, passar por fases tematizadas matando vários capangas de formas violentas até chegar em um chefe com uma personalidade estereotipada ao extremo. Tudo isso poderia parecer ridículo se fosse encaixado de uma forma errada, mas todos esses elemento combinam e criam a ambientação exótica do jogo.
O primeiro No More Heroes não chega a ser um dos melhores títulos do console, mas merece ser conferido como um dos melhores no gênero hack'n slash do Wii. É um jogo com estilo, personalidade e uma das obras do maluco Suda51, é uma boa adição a qualquer biblioteca de jogos.