No ano de 2006, New Super Mario Bros. foi lançado como o jogo principal da série Mario para o Nintendo DS. Todos que acompanham a série sabem que a Nintendo lança um jogo da série principal por console desde o Super Nintendo, então a aposta para o DS era um jogo que, esbanjando originalidade, trazia de volta a jogabilidade clássica 2D, com lindos gráficos contornados com o mais puro e bem trabalhado efeito 3D.

O jogo foi um sucesso imediato e reinventou o estilo exploração e plataforma 2D, que comandou os games até a geração 16-bit e criou ícones como Mario, Sonic, Castlevania, Metroid entre outros. Em uma época em que o 3D estava no auge de seu sucesso, com a evolução dos gráficos em ritmo acelerado, era renovador ver um jogo que ousava “retroceder” em estilo, remetendo a uma jogabilidade até então abandonada, e ousava ser diferente, correndo o risco de ser marginalizado por não seguir a tendência que estava estabelecida naquele específico momento do cenário gamer.

Por (não, não sorte) pura competência da Nintendo, aconteceu o contrário. O jogo foi um imenso sucesso e sempre será lembrado como o responsável por essa transição de retorno ao 2D, que futuramente inspiraria grandes jogos como Rayman Origins / Legends e Donkey Kong Country Returns / Tropical Freeze. Além, claro, de ser também responsável por incursões de estilo 2.5D em séries que já estavam estabelecidas (e muito bem aclamadas) no mundo 3D, como aconteceu com Metroid Other M.

Não, todos esses jogos não foram inspirados em New Super Mario Bros. Mas foi ele que deu o primeiro passo e abriu as portas para dizer a uma geração onde apenas a evolução da beleza gráfica importava que a jogabilidade também é importante e que às vezes é preciso experimentar coisas novas, ou no caso, experimentar coisas antigas, experimentar coisas que já haviam feito sucesso e tinham sido esquecidas.

Isso criou um precedente para que todos pudessem e quisessem experimentar o estilo 2D, e quanto mais você pudesse retroceder, melhor seu jogo ficaria. O que acabou gerando pequenos grandes jogos de estúdios poderosos como Outland da Ubisoft, e impulsionou o desenvolvimento indie, trazendo sucessos como Shovel Knight e Mighty Nº. 9. Além de permitir que séries que não haviam se renovado em estilo pudessem seguir sem medo no mundo 2D, como Kirby e Yoshi’s Island.

New Super Mario Bros. acabou deixando se ser o representante da série principal para o Nintendo DS e se tornou uma série própria, que geraria mais três jogos em um curto período de tempo. E esse foi o maior erro da empresa. Saturar uma série que foi criada em cima do grande mentor da nova era 2D. New Super Mario Bros. Wii é uma evolução natural do primeiro jogo, e serviu para mostrar como ele ficaria ainda mais divertido se fosse ainda mais bonito.

Mas quando New Super Mario Bros. 2 e New Super Mario Bros. U chegaram ao mesmo tempo, dois jogos que, a seus diferentes modos, seriam muito bem aceitos em épocas diferentes, se transformaram em ícones de saturação de uma fórmula e mostraram que, mesmo que um game seja extremamente divertido, quando é demais, acaba se tornando repetitivo e cansativo, e talvez seja hora de procurar outros caminhos ou outras coisas para jogar.

New Super Mario Bros 2 e U não são jogos ruins, em especial o jogo de Wii U, que aparece como um representante forte da nova temática 2D e reverencia um dos jogos mais aclamados da série do bigode, Super Mario World, mas estão inseridos em um contexto errôneo, em um momento impróprio. Foram introduzidos às pressas e se tornaram grandes caça-níqueis, e por isso são vistos pela grande maioria com olhos de desaprovação.

Mas apesar dos exemplos ruins, grandes nomes com Rayman Legends e Donkey Kong Country Tropical Freeze despontam como os maiores representantes atuais dessa leva de jogos 2D, representando um auge para este momento, e também podendo representar o fim dessa nova era.

Por mais que algumas séries tenham se estabelecido com sucesso no mundo 2D, é fácil ver os fãs desejarem que o próximo Donkey Kong seja em 3D, ou que o próprio Rayman retorne ao mundo dos gráficos tridimensionais, repetindo o sucesso de Rayman 3: Hoodlum Havoc. Até Super Mario Galaxy 2, um dos melhores jogos de Mario já feitos, e que foi o jogo que uniu com maestria o mundo 3D e o mundo 2D, hoje encontra um desafio quando os fãs ficaram felizes em ver que Super Mario 3D World apresentava mais elementos 3D do que 2D. As plataformas achatadas estão perdendo sua força novamente dentro dos grandes jogos, e os mundos estão querendo se abrir mais uma vez para o 3D absoluto.

O 2D é gostoso e traz uma jogabilidade mais descompromissada, mas também pode se torna cansativo e repetitivo (o que, acreditem, não é o caso de Legends ou de Tropical Freeze). Então pode ser que Tropical Freeze represente o momento maior dessa era que começou lá em 2006, e que agora o 3D comece a retornar às séries que já estavam estabelecidas no mundo 2D, e voltem a ser predominância absoluta.

Muitos jogos ainda serão lançados no formato retro, mas até quando haverá espaço para eles na nova geração que está surgindo? Será que precisamos voltar ao 3D, para que possamos passar um tempo assim, até sentirmos falta novamente de uma jogabilidade mais clássica e então um novo jogo volte para dizer: “Está tudo bem ser 2D, está tudo bem ser retrô, vamos (re)revolucionar essa indústria.”

E esse ciclo nunca deixará de ser novo e saudável.