Nintendo - 20/01/2015

Nostalgia turbinada em Ultimate NES Remix


Há muitos anos, a nostalgia é uma das galinhas dos ovos de ouro da indústria do entretenimento. Tomemos como exemplo a indústria do cinema: em 2014, apenas três dos dez filmes mais lucrativos do ano não eram remakes, reboots ou continuações. Dez anos atrás, as estatísticas do Top 10 eram inversas, com a maioria dos blockbusters apresentando roteiros originais e apenas três continuações. Quanto aos videogames, há ainda menos títulos originais entre os mais vendidos - apenas dois dos dez não são parte de uma série.

Claro que cinema e games são duas indústrias diferentes. Cada uma tem suas particularidades e seu modo de conduzir negócios. Contudo, é inegável que continuar uma série é economicamente mais seguro do que apostar em algo desconhecido, e os produtores sabem muito bem disso. O potencial criativo sofre com isso? É claro. Temos consciência de que transformamos a indústria num grande centro de reciclagem, mas queremos mais Mario Kart? Óbvio!

Entretanto, esse assunto é pra outro texto. Neste, quero falar de nostalgia. O wikcionário (a.k.a. Aurélio da Geração Y) define a palavra como um "sentimento de tristeza motivado por profunda saudade". A Internet redefiniu a palavra pra "coisas com cinco anos ou mais que rendem conteúdo pra youtubers que adoram emular Nostalgia Critic e Angry Video Game Nerd e correntes de Facebook com comentários de adolescentes dizendo 'nossa, como eu tô velho!'". Mas eu sou uma guria antiquada e vou me apegar ao sentido original da palavra pra falar de algo que tenho saudade: meu famiclone.

Hello darkness my old friend

Meu irmão e eu passamos dois maravilhosos anos com um idêntico à foto, até os cabos quebrarem e ele ganhar um PlayStation. Praticamente todos os jogos do NES que não tivessem um personagem reconhecível estavam lá: Wild Gunman, Pinball, Adventure Island, Bump'n'Jump, Circus Charlie, Excitebike... Amávamos aquela porcaria de plástico vagabundo. Claro que ter um videogame novo fez a gente esquecer o antigo rapidinho, mas certas fases, sons, cores - jamais esqueceríamos.

O NES não precisa de apresentações; foi só um dos videogames mais influentes de todos os tempos, salvando a indústria depois do crash de 1983. É o Citizen Kane dos consoles: você não pode se dizer manjador do assunto se não o conhecer. Ele deu origem a diversas franquias, ditou o tom para vários gêneros e cimentou a Nintendo como uma gigante do entretenimento. Foi no NES que conhecemos a gênese de muitos de nossos jogos preferidos. Todo o respeito do mundo praquela caixinha cinza (ou amarela, se você é um relaxado e deixou ela no sol).

Porém, já se vão 30 anos desde seu lançamento, o que dificulta o acesso das gerações mais novas a esses pedacinhos de história. Unindo a fome à vontade de comer - ou o mercado da nostalgia ao resgate das origens -, a Nintendo teve a sagacidade de relançar seus maiores clássicos em forma de desafiadores minigames. No Wii U. Em dois volumes chamados Famicom Remix/NES Remix I e II.



Tudo muito bom, tudo muito bem. O jogo foi bem recebido, vendeu bacana. Aí, alguém na Nintendo finalmente teve a epifania de lançar esses minigames onde eles sempre deveriam ter estado - um portátil! O portátil mais vendido da geração, quem sabe? Ultimate NES Remix (Nintendo, 2014) reuniu, então, 16 das melhores coleções de minigames das duas versões no que é um dos melhores passatempos pra esse castigante verão que enfrentamos.

Os desafios são construídos em torno de títulos clássicos, como Super Mario Bros., Donkey Kong e The Legend of Zelda e envolvem completar objetivos realizando tarefas específicas baseadas nas fases desses jogos. Ou seja: em Punch Out!!, por exemplo, um dos minigames envolve dar três socos em Piston Hondo e desviar dos golpes. Complete esse objetivo no menor tempo possível e passe ao próximo. Seu esforço é classificado em estrelas (de uma a três) e, se desejar, publicado em um ranking.

Além dos dezesseis títulos famosos, há os modos Remix I e Remix II, nos quais todos os jogos se misturam para trazer experiências inéditas. Que tal derrotar o Whispy Woods, mas dessa vez com uma fila de Boos se aproximando do pobre Kirby? Ou passar toda a primeira fase de Super Mario Bros. enxergando apenas silhuetas? Isso tudo é possível com os divertidos - e nada fáceis - crossovers dos Remix, que rejuvenescem as velhas fórmulas que nos são tão familiares.


Para os completadores, temos três estrelas para cada fase. Para os competitivos, rankings e o Championship Mode, remanescente do famoso Nintendo World Championships. Para quem ainda não ficou satisfeito e quer mais desafio deve experimentar o modo Speed Mario Bros., no qual nosso gordinho italiano favorito está absolutamente sem freio: todo o jogo teve a velocidade dobrada, levando o conceito de speedrun a níveis ridículos.

Como jogo, Ultimate NES Remix é recomendável para quem chegou agora na vida gamer e para quem já conhece esses títulos de cabeça pra baixo. São minigames desafiadores e viciantes que aproveitam o potencial de um portátil e permitem sessões rápidas de diversão e nostalgia - e essa última vem como um saco de tijolos no seu colo. Abri um sorriso enorme quando vi o Kirby tendo que quebrar tijolinhos pra pegar moedinhas em Mushroom Kingdom. Peguei todas as estrelas do Excitebike de primeira, como se eu ainda jogasse todo dia, por horas a fio, aquele famiclonezinho safado. Não é nada revolucionário, nem um título obrigatório do 3DS, mas diverte demais.

Para jogadores mais experientes, pode não ter muita coisa nova pra ver. Mas não há nada de mal em rever velhos amigos, mesmo que você os conheça de cor, que eles estejam datados ou até que alguns deles sejam bem frustrantes. Existe uma razão para a nostalgia ser um mercado tão lucrativo; nós amamos resgatar o que vivemos, e amamos igualmente mostrar às novas gerações como o mundo foi para nós. E, quando se trata do NES, sempre vale a pena tirar a poeira e fazer uma visitinha.


E a Europa ainda tinha uma versão com um boné maneiríssimo #ostentação

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