Entendendo melhor a “crise” da Nintendo
Por Angelo Mota
2014 foi um ano que não começou muito bem no mundo dos games. Logo no começo do ano, uma série de informações começou a surgir na internet sobre uma suposta crise na Nintendo, que envolviam as baixas vendas do Wii U, e aparentemente estavam fadando a empresa ao fracasso total e, consequentemente, à falência.
Existem sim muitos problemas acontecendo realmente dentro da Nintendo, mas o maior problema dessa história toda não está no Wii U, mas sim na própria internet. Por ser um meio de rápida difusão de informações, cada um pode falar o que quer sobre qualquer coisa, e muita informação desencontrada acabou se espalhando de forma viral, deixando muita gente desinformada acreditando em muita coisa que não era real.
FATO: O Wii U realmente está em uma fase complicada. As vendas estão baixas em todo o mundo, o suporte de investidores e third-parties está perdendo força de forma vertiginosa, as ações estão desvalorizando e a própria Nintendo parece não saber o que fazer com o GamePad, um dos maiores trunfos de seu novo console.
MITO: O Wii U vai ser descontinuado e a Nintendo vai falir.
Não. O Wii U não vai ser descontinuado e a Nintendo não vai falir. Por que? O porque do Wii U não ser descontinuado vou discutir mais à frente no texto, mas ela não vai falir porque a empresa tem um capital de reserva absurdo que permite que ela fique facilmente uma geração inteira sem fazer nada e ainda assim não passar perto de falir. É claro que não é o que nós queremos, ver a Nintendo fora do mercado, e muito mais claro ainda que não é o que eles da Nintendo querem.
A maior dificuldade do Wii U está em dois fatores muito claros, que foram os grandes causadores de todo este problema que ele vem passando.
O primeiro é a falta de divulgação, que a própria Nintendo admitiu existir. Quando o Wii U foi lançado, ele foi sim amplamente divulgado pela empresa. Uma grande conferência deu conta de mostrar o console e tudo o que ele era capaz de fazer. Possibilidades e recursos infinitos para um console extremamente inovador que trazia uma tela touch em seu controle (sem dúvida alguma, um dos maiores feitos da indústria de games).
O tempo passou e toda essa “promoção” do aparelho se perdeu no limbo, e as pessoas – que mesmo na introdução inicial dele achavam que ele era um Wii que gerava gráficos HD – ficaram ainda mais confusas, sem sequer saber que o Wii U era um console a parte, capaz de fazer coisas que o Wii jamais imaginou. As nomenclaturas e design muito parecidos ajudaram a criar essa confusão, e então muita gente não sabia de fato se aquilo era mesmo um novo console ou se o GamePad era mais um acessório do Wii. E essa confusão não ficou apenas na cabeça do consumidor final, os próprios lojistas anunciavam Wii U como sendo Wii, e vice-versa.
O tempo passou e toda essa “promoção” do aparelho se perdeu no limbo, e as pessoas – que mesmo na introdução inicial dele achavam que ele era um Wii que gerava gráficos HD – ficaram ainda mais confusas, sem sequer saber que o Wii U era um console a parte, capaz de fazer coisas que o Wii jamais imaginou. As nomenclaturas e design muito parecidos ajudaram a criar essa confusão, e então muita gente não sabia de fato se aquilo era mesmo um novo console ou se o GamePad era mais um acessório do Wii. E essa confusão não ficou apenas na cabeça do consumidor final, os próprios lojistas anunciavam Wii U como sendo Wii, e vice-versa.
O segundo problema, esse ainda mais grave do que a falta de divulgação, foi a falta de suporte ao GamePad. Falta de suporte de desenvolvedores third-party? Não. Falta de suporte da própria Nintendo. Eles criaram o controle mais inovador de todos os tempos... E parecia que não sabiam como utilizá-lo. Por mais que as utilizações mais inteligentes do Wii Remote fossem aparecer com o passar de um longo tempo, muitos de seus recursos foram mostrados logo no começo com jogos da própria Nintendo. No Wii U, nós tivemos utilizações fracas e preguiçosas nos primeiros jogos first-party, e isso pode ter causado uma desmotivação de outras empresas para criar recursos interessantes e inteligentes. E eu repito: “PODE TER” causado. Não significa que o caminho foi exatamente esse, mas de qualquer forma, é desestimulante ver que a própria empresa que criou o produto parece não saber o que fazer com ele.
E eu vou bater nessa tecla de novo e dizer: replicar a imagem da TV no GamePad é inaceitável, a não ser que seja em momentos específicos para missões específicas, e não como acontece em New Super Mario Bros. U e Super Mario 3D World. Melhor desligar o GamePad enquanto o jogo está rodando, assim como a Retro fez em Donkey Kong Country Tropical Freeze. Além disso, o GamePad ainda conta com recursos que sequer foram utilizados e que as pessoas – que possuem Wii U – sequer sabiam que eles existiam, como o NFC (esqueçam Pokémon Rumble U) que deveria ter sido utilizado em quase todos os jogos da empresa, para que as pessoas se acostumassem a ter uma interatividade maior desde o começo. E agora, na reunião com os investidores, Iwata declarou que pretendem utilizar o NFC do GamePad à exaustão. Não é tarde demais, de forma alguma. Mas é tarde.
E eu vou bater nessa tecla de novo e dizer: replicar a imagem da TV no GamePad é inaceitável, a não ser que seja em momentos específicos para missões específicas, e não como acontece em New Super Mario Bros. U e Super Mario 3D World. Melhor desligar o GamePad enquanto o jogo está rodando, assim como a Retro fez em Donkey Kong Country Tropical Freeze. Além disso, o GamePad ainda conta com recursos que sequer foram utilizados e que as pessoas – que possuem Wii U – sequer sabiam que eles existiam, como o NFC (esqueçam Pokémon Rumble U) que deveria ter sido utilizado em quase todos os jogos da empresa, para que as pessoas se acostumassem a ter uma interatividade maior desde o começo. E agora, na reunião com os investidores, Iwata declarou que pretendem utilizar o NFC do GamePad à exaustão. Não é tarde demais, de forma alguma. Mas é tarde.
O GamePad é o controle mais revolucionário já feito, mas faltou um suporte da parte da Nintendo para uso do aparelho.
Estes dois “problemas maiores” do Wii U culminaram nas baixas vendas do console e no afastamento das third-parties, deixando a Nintendo na situação em que se encontra hoje. Não em uma situação de falência, ou pra ser mais claro, como muita gente diz, de “estar na merda”. Ela está bem longe disso, mas não deixa de estar em uma situação de abandono, definida em dois sentidos:
- As empresas estão abandonando o Wii U. Todos os dias uma notícia nova dá conta de um jogo multiplataforma que não sairá para o Wii U, um DLC que foi cancelado na versão de Wii U, ou um Watch_Dogs que vai ter sua versão de Wii U adiada mais do que as outras. A Ubisoft, uma das maiores parceiras da Nintendo, já havia pisado na bola com Rayman Legends, mas no final ofereceu a melhor experiência do jogo no console. Agora com Watch_Dogs, um jogo que, de certa forma está sendo muito bem esperado pelos fãs, existe o risco de, quando a versão de Wii U sair, muita gente já ter desistido de esperar e ter pego o jogo em outro console, por mais que a experiência com o GamePad possa ser única e se diferenciar das outras versões.
Sem um apoio massivo de third-parties, e sem jogos da própria Nintendo que possam mostrar a que o Wii U realmente veio, fica realmente difícil colocar a empresa em um momento de glória, e é fácil condená-la a um destino incerto e aparentemente nada bom. - A Nintendo abandonou seus fãs. Calma, não se desesperem, não é pra sempre. Mas ela nos deixou na mão, no começo deste ano, pois estávamos esperando um Nintendo Direct em janeiro, que pudesse criar uma lineup de jogos para o ano, e para que pudéssemos saber que nosso Wii U não ia ficar parado por muito tempo. É claro que, com tudo o que está acontecendo, eles devem estar rearranjando alguns planejamentos, exatamente para nos trazer o melhor material e provar que a compra do Wii U não foi em vão. Mas este silêncio, sem notícias, só piora a situação. Agora, com o Nintendo Direct de hoje (13 de fevereiro), a empresa tem a grande chance de se redimir com os fãs, e mostrar quais serão os jogos que poderão nos entreter no primeiro semestre de 2014, até que chegue a E3, que dará conta do segundo semestre. Os fãs não querem números de vendas, ou valor de ações na bolsa, os fãs querem jogos (jogos bons e divertidos) e é isso que ela precisa trazer na apresentação de hoje, e é isso que pode ajudar a começar a mudar a situação do Wii U.
Com essa falta de informação no começo do ano, não restou outra alternativa ao fãs senão condenar a empresa à falência, porque o Wii U simplesmente não vende, ou pensar em trocar seu Wii U por um Xbox One ou um PS4, que estão hypados no momento. Essa “desinformação” acaba criando fatos que na verdade não são reais, e sim frutos de uma histeria coletiva.
O que é real?
É real que o Wii U está vendendo pouco no mundo todo. No Japão, nos EUA, em todo lugar, ele está muito abaixo de seus concorrentes nas vendas.
É real que o Wii U tem poucos jogos. Ele tem uma biblioteca de peso, com Pikmin 3, Super Mario 3D World, The Legend of Zelda – The Wind Waker HD, Rayman Legends. Mas ele realmente, pelo tempo de vida que tem, tem poucos jogos para mostrar tudo que o console é capaz de fazer.
É real que a Nintendo está em uma situação complicada por causa do Wii U. Isso foi admitido pelo presidente Satoru Iwata e medidas para corrigir isso estão sendo tomadas. E repito, não estamos falando de dinheiro, e sim de imagem. Dinheiro eles ainda têm bastante.
O que não é real?
Não é real que eles irão descontinuar o Wii U e criar um console novo ainda pra esse ano. Eles trabalharam muito para criar o Wii U, e o caminho lógico (o único caminho) é trabalhar ainda mais para consertar sua imagem. É inviável, neste momento, tentar introduzir uma plataforma nova e querer que as pessoas aceitem isso. É claro que eles já devem estar trabalhando em uma futura plataforma, mas só porque esse é o caminho natural das coisas. Quando um console é lançado, você já começa a pensar em recursos para o próximo, então coloque mais uns 4 a 5 anos nessa conta.
Não é real que a Nintendo vai falir. Como eu já disse, o que não falta para eles é recurso. E não digo apenas de recurso material, mas o que não falta para a Nintendo – e isso todo fã da empresa sabe – são cartas na manga. E essas cartas se chamam Metroid e The Legend of Zelda, que são capazes de vender consoles como se fosse água, assim como Pokémon faz com portáteis. Sim, o apoio (massivo) de third-parties é essencial para que a empresa possa realmente se sobressair no mercado, mas se eles precisarem confiar nas próprias franquias para tirar o Wii U do buraco, é isso que eles irão fazer, afinal a Nintendo tem o diferencial de ter o maior número de IPs próprias e o que falta para ela é apenas usar e abusar disso para atrair a atenção dos fãs para o Wii U, atraindo também, desta forma, mais investidores e quem sabe mais third-parties.
E principalmente: não é real que a Nintendo irá se vender para outras empresas ou fazer jogos para smartphones. Muitos sites especializados, cuja principal função é manter o leitor bem informado, se perderam um pouco em algumas traduções, e colocaram como fato que a Nintendo estava pronta para começar a criar jogos de suas franquias para smartphones. O que aconteceu foi que eles declararam que podem eventualmente pensar em aplicativos (como a Pokédex que já existe no iOS), mas jogos estão fora de questão. E a expansão das marcas da Nintendo irá acontecer fora do campo dos jogos, com produtos como animes, mangás, pelúcias, brinquedos, etc.
E o 3DS? Onde ele entra nisso tudo?
O 3DS é o porto seguro da empresa. Um portátil que vende mais do que eles próprios esperam (mesmo que eles tenham diminuído a estimativa de vendas do portátil, acredito que a própria Nintendo às vezes se surpreenda com a força de vendas do pequeno portátil 3D) e que hoje é um absurdo sucesso, batendo recordes de todos os consoles mais vendidos. Em breve ele será o console mais vendido da história, e não vai demorar muito.
O 3DS é o porto seguro da empresa. Um portátil que vende mais do que eles próprios esperam (mesmo que eles tenham diminuído a estimativa de vendas do portátil, acredito que a própria Nintendo às vezes se surpreenda com a força de vendas do pequeno portátil 3D) e que hoje é um absurdo sucesso, batendo recordes de todos os consoles mais vendidos. Em breve ele será o console mais vendido da história, e não vai demorar muito.
O 3DS garante a estabilidade da Nintendo, e continuará disparado como um dos consoles mais bem sucedidos da história.
Esse sucesso todo do 3DS pode nos mostrar que ainda existe solução para o Wii U, sendo que o 3DS passou pela mesma escassez de jogos e falta de utilização de seus recursos únicos em seu primeiro ano. Eu sei que não se deve comprar consoles com portáteis, são dois mercados distintos. Mas assim como a Nintendo fez de 2013 o “ano do 3DS”, trazendo dezenas de jogos próprios e recebendo massivo suporte de third-parties, existe uma luz no fim do túnel se ela fizer de 2014 o “ano do Wii U” e utilizar da mesma estratégia. Basta que, ao invés de Pokémon e Animal Crossing, nós tenhamos Metroids e Zeldas (e nisso eu incluo todas as franquias que merecem ter seu espaço no console, as que estão em atividade e as que estão esquecidas há pelo menos duas gerações ou mais).
Quando Satoru Iwata, na conferência com os investidores, admitiu tudo o que foi dito aqui, eles não estavam admitindo a derrota da Nintendo, estavam admitindo os problemas, e apresentando soluções para os mesmos, que devem acontecer agora no decorrer de 2014.
Não estou defendendo cegamente a empresa, estou apenas acreditando que exista uma solução, e imagino que este seja o desejo de todo fã da Nintendo, que goste de ter seu Zelda, seu Metroid, seu Super Mario em mãos para poder se divertir. Eu tenho um Wii U, e sei como é difícil achar um jogo legal depois que você já jogou todos os disponíveis (que já são bem poucos), e espero mesmo que essa história se reverta, e eu possa usufruir ao máximo do que ele pode me oferecer. Esconder os problemas não vai resolver nada. Admiti-los faz parte de um processo maduro e agora o jeito é lutar para que eles sejam resolvidos. E torcer contra, para que tudo dê errado, também não ajuda, então resta a nós, como fãs, como entusiastas dos jogos da empresa, torcer para que – não no final, mas o quanto antes – tudo acabe bem.