Nintendo - 07/08/2014

Jogos que parecem não pertencer às suas próprias séries


Muitas vezes, em nossas séries favoritas, nos deparamos com um jogo que nos faz dizer: “mas isso não é Zelda”, “isso não é Mario”, etc. Alguns jogos, no intuito de inovar, acabam criando rupturas em suas próprias séries, se distanciando do material que caracteriza as mesmas. Quase toda série tem um jogo com essa carcterística, então vamos visitar alguns deles e ver onde eles erraram (se é que a palavra é essa, porque nenhum deles chega a ser um jogo ruim) e acabaram perdendo o caminho que precisavam seguir para pertencer à série que representam.

SUPER MARIO SUNSHINE

Super Mario é uma franquia muito rica e que gerou muitos spin-offs interessantes e de qualidade. Yoshi’s Island, Mario & Luigi e Paper Mario são alguns dos exemplos. E ela não para de expandir, Captain Toad tá aí pra mostrar que sempre é possível diversificar e levar a série para um novo caminho nunca antes explorado.

Mas existe um jogo, dentro da série principal, que se distanciou tanto da “fórmula” criada pelos outros jogos, que acabou se tornando um episódio único, como se fosse um spin-off dentro da própria série: Super Mario Sunshine.



Sunshine se diferencia dos outros jogos em um aspecto muito peculiar: sua história. Um tanto quanto profunda para os padrões da série Super Mario. Durante o desenvolvimento da franquia principal, vimos Mario salvar a princesa em tramas que se limitavam a dizer “A princesa está em outro castelo” ou “o rei foi transformado em um cachorro, por favor, nos ajudem”. E mesmo quando entramos na era do 3D, em Super Mario 64, a trama se baseava em “cheguei no castelo, cada quadro é uma fase, não sei como vim parar aqui, mas vou salvar a princesa”.

Em Super Mario Sunshine somos apresentados a um Mario que viaja de avião com a Princesa Peach e alguns Toads, quando recebe um chamado de ajuda da Ilha Delfino. Ao desembarcar, descobrem que o lugar está sendo perturbado por um vilão que está sujando aquela ilha paradisíaca, e Mario precisa ajudar os habitantes indo atrás do meliante. No final (SPOILER ALERT) ele descobre que na verdade o vilão era Bowser Jr., filho de Bowser, e que ele queria a princesa Peach, que acredita ser sua mãe, porque foi isso que o pai lhe disse.

Uma trama muito bem elaborada, que já distancia este jogo de qualquer outro da série principal. Mas este não foi o único agravante de Sunshine. Outro “problema” do jogo é a falta de elementos clássicos da própria série. Sunshine apostou na temática “praia” e todas as suas fases se baseiam nisso, deixando de lado a diversidade que até então era encontrada nos mundos de Mario, como fogo, deserto, gelo, vulcão, montanhas, etc.

Super Mario Sunshine não tem blocos com power-ups, não tem fire flower, não tem super mushroom. O único “poder” do jogo é o F.L.U.D.D., um aparelho que, ao tentar ajudar, acaba descaracterizando ainda mais o personagem, porque se torna um assistente de pulo, e pular é algo que Mario sempre soube fazer sozinho.

Depois, na aventura seguinte, Super Mario flertou novamente com uma trama mais complexa, em Super Mario Galaxy, mas a riqueza de suas ambientações e a diversidade de seus power-ups fez com que isso fosse perdoado. Ainda assim, em Super Mario Galaxy 2, a trama foi descartada, e o foco estava novamente em cair direto na ação. Não é à toa que Super Mario 3D World tenha um aspecto tão nostálgico. Afinal de contas, Mario precisava retornar às suas origens para poder se reencontrar.

Super Mario Sunshine não é um jogo ruim. Pelo contrário. Ele é um jogo excelente, vivo, divertido e cheio de beleza por todos os lados. Mas ele não é um bom exemplar do que é ser um legítimo Super Mario Bros.

THE LEGEND OF ZELDA – SPIRIT TRACKS

A série Zelda vive em constante mudança. A chegada do 3D em Ocarina of Time, o cel shading de The Wind Waker, o realismo de Twilight Princess, a nostalgia de A Link Between Worlds. Mas nenhum jogo descaracterizou tanto a série, ao mesmo tempo em que homenageava, como The Legend of Zelda: Spirit Tracks.

Spirit Tracks tem tudo que um Zelda precisa ter. Tem a princesa, o vilão, Link com sua roupinha verde de herói. Pieces of Heart, itens criativos, cuccos, baús, dungeons, matinho para cortar, espada, escudo e tudo mais. O jogo, que pertence a uma trilogia iniciada em The Wind Waker, homenageia seu antecessor do GameCube da melhor forma possível, e cria o conceito da “Nova Hyrule” que havia sido mencionado no final do jogo. Spirit Tracks é um Zelda. É legítimo. Uma homenagem a uma série diversa e incrível. E ao mesmo tempo, ele praticamente não é Zelda de forma alguma.

Ele é Zelda por tudo o que foi mencionado ali em cima. Mas ele deixa de ser pelo simples fato de que, se você trocar o nome de dois ou três personagens, ele simplesmente poderia ser qualquer jogo e jamais desconfiaríamos que ele sequer tentou copiar Zelda de alguma maneira.

E o que mais o distancia de sua série não é o fato do vilão ser um trem gigante fantasma, ou de que o herói é um maquinista e a princesa é um fantasma dentro de uma armadura. Mas sim o fato de que a exploração de Hyrule, tão peculiar e famosa desde o primeiro jogo da série em 1986, foi substituída por uma jogabilidade engessada em um estilo on-rail que faz com que toda a experiência de um verdadeiro Zelda se perca naquelas linhas de trem.



Por mais que seja extremamente divertido e prazeroso interagir com o trem e seus obstáculos quando você está se deslocando de um local para outro, isso não pode ser considerado exploração perto do que já vimos a série Zelda fazer.

Spirit Tracks conseguiu o impossível. Ter tudo o que um bom Zelda precisa ter, e não ter o que um bom Zelda precisa ter. O jogo é incrível, lindo, carismático, desafiador, tem chefes super inteligentes e é extremamente divertido. Mas não é um bom Zelda.

STAR FOX ADVENTURES

Ninguém, jamais, em tempo algum, duvidou da capacidade da Rare quando ela trabalhava com a Nintendo. Foi por isso que, com toda a segurança do mundo, ela criou (como seu último trabalho para a Big N) Star Fox Adventures, no GameCube.

Adventures soube, em momentos específicos, trazer o que a série sempre teve de melhor. Incríveis batalhas aéreas a bordo da clássica Arwing. Mas como o jogo foi criado sobre um projeto da própria Rare, que já tinha nome e sobrenome (Dinosaur Planet), ele acabou se transformando em uma espécie de Star Fox bizarro no mundo dos dinossauros, onde a maioria das batalhas de nave foram substituídas por caminhos a pé, exploração de dungeons, coleta de itens e batalhas com um sabre.



Basicamente, Star Fox havia se transformado em Zelda. De todos os “Zelda wannabe” que existem (Okami, Darksiders, etc.) Star Fox Adventures foi o que mais se aproximou. Afinal de contas, Fox pula automaticamente quando chega na beirada de algum lugar. Onde mesmo eu vi isso?

Star Fox Adventures é um jogo maravilhoso, o mais fino e polido material de uma empresa que sempre prezou pela perfeição. Mas ele é um jogo recomendado principalmente para fãs de Zelda. Não é dos melhores para fãs de Star Fox.

RESIDENT EVIL 4

O melhor jogo para se exemplificar como a série Resident Evil se descaracterizou, sem dúvida alguma, é Resident Evil 6. Mas voltando um pouco no tempo, acabamos percebendo que foi na Nintendo que essa descaracterização começou a acontecer, e Resident Evil 4 foi o grande responsável por isso.

O jogo, criado exatamente para dar um fôlego novo na série, acaba se distanciando de tudo o que ela criou no decorrer dos anos. O terror ainda está lá. Resident Evil 4 sabe como assustar, mas a ação foi inserida na fórmula, criando um gênero totalmente novo, que sabia mesclar com maestria o que havia de melhor no terror com o dinamismo de jogos de ação.

Então não é por isso que Resident Evil 4 se distancia de sua série, porque o terror está presente. Mas ele faz esse ponto de ruptura por não apresentar uma história que faça parte trama criada desde o primeiro jogo, e que se intensificou com episódios mais focados em contar o que aconteceu, como Resident Evil Code: Veronica e Resident Evil Zero. Mesmo que Code Veronica funcione como uma espécie de spin-off, ele ainda junta os elementos à trama principal. Resident Evil 4 até faz isso, de uma forma muito sutil, mas sua base é muito mais pessoal e distante de tudo o que já havia sido feito anteriormente.



Seu desenvolvimento é focado única e exclusivamente na jornada de Leon, e por mais que Ada apareça em seu caminho para que a trama possa remeter a eventos passados e futuros (porque o que aconteceu em RE4 só fará total sentido com a história do 5), o jogo procura não se misturar ao outros, funcionando como um episódio isolado, um verdadeiro spin-off de toda a série. Os menos atentos sequer perceberão que Wesker estava por trás de tudo e queria tomar o novo vírus das mãos de Leon para criar seu apocalipse pessoal no jogo seguinte.

Resident Evil 4 foi um jogo muito importante para a sua geração e para a própria indústria de games, mas ele foi o primeiro a criar o conceito de “isso não é Resident Evil”. Infelizmente o que era apenas um conceito evoluiu rápido e se tornou um fato inegável, mas foi ali que tudo começou.

METROID OTHER M

Metroid é uma das séries de exploração mais elaboradas e complexas que existe. Já na era 2D, o jogo era repleto de salas que deixavam o jogador intrigado em como chegar até aquele lugar, passagens secretas, mapas repletos de bifurcações e longas distâncias a serem percorridas várias vezes, ida e volta.

A série Prime, criada pela Retro Studios, é um clássico por ter conseguido transpor isso com maestria no 3D. Se perder em três dimensões é ainda mais complexo, você fica ainda mais confuso e tudo fica mais desafiador e arriscado.

E é por isso que Metroid Other M recebe um pouco de rejeição por parte dos fãs. Em Other M, a exploração foi substituída por um jogo linear e ligeiramente fácil, que não permite que o jogador pense, mas que apenas siga seu caminho em linha reta, indo de um ponto a outro, e depois para outro, sempre em um caminho lógico e que não exige muito do instinto de exploração do jogador.



Além disso, tem o agravante da Samus falante. No intuito de criar uma personalidade mais forte para a personagem, e por consequência, um jogo mais vivo e cinematográfico, a Team Ninja resolveu dar vida de verdade para Samus, e a guerreira destemida de todas as galáxias acabou se transformando em uma mulher insegura e com sérios problemas de relacionamento, sejam eles profissionais ou afetivos.

Metroid Other M é um jogo indispensável. É bonito, é dinâmico, é desafiador. Mas ele poderia ser qualquer outro jogo, ser qualquer outra IP, porque não conseguiu ser um legítimo Metroid.

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Lembra de mais algum? Existe algum jogo de sua série favorita que parece não pertencer a ela? Não deixe de nos contar nos comentários.

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