Nintendo - 09/04/2015

Que tal jogar algum Shin Megami Tensei?


Após o último Nintendo Direct (01/04/2015) voltamos a ver, depois de 2 anos, o jogo Shin Megami Tensei x Fire Emblem (nome provisório). E ele está bem... Diferente! Se quiser assistir de novo aqui, não tem problema nenhum. Bom, e não há momento melhor para falar de uma das minhas séries de RPG (porque não, de jogos) favorita que como o título já entrega, é Shin Megami Tensei.

Várias pessoas já ouviram falar dessa série, mas várias delas não sabem por onde começar. Afinal, ela está na ativa desde 1987 no Famicom (o clássico NES ou Nintendinho aqui para nós), e possui muitos jogos, OVAs, animes, mangás e romances (que foi onde ela, de fato, começou). Com todo esse conteúdo transmídia, fica difícil se achar nesse oceano de opções.
Vou citar os títulos que acho mais acessíveis para que se possa aprender as mecânicas da série e que o instigue a procurar mais conteúdo dentro dessa excelente franquia. Mas antes disso, um breve resumo do que é Megami Tensei.

(Shin) Megami Tensei é uma série de RPG desenvolvida pela Atlus, e a franquia é várias vezes apresentada como “Pokémon do Capiroto” ou “Pokémon de Adulto”. Uma triste comparação, já que Akemi Nakajima (Megami Tensei) esteve capturando demônios quase 10 anos antes do nosso conhecido Red pensar em se tornar um Mestre Pokémon.
Esses títulos estranhos existem porque na maioria dos títulos da série MegaTen há uma obrigatoriedade na formação de times usando monstros que são encontrados durante o jogo. Mas aqui, eles são imagens de deuses e entidades das mais diversas mitologias. O jogo também tem uma temática adulta e dificilmente explorada em jogos, misturando temas filosóficos com releituras de passagens dos mais diversos mitos. Algo que não causou muitos rebuliços na mídia graças ao estado “cult” da franquia.

Já está interessado? Não irei me ater aos consoles da Nintendo para essas indicações, pois seria uma pena não falar de alguns excelentes títulos que agraciaram os outros consoles. A base para os textos será a mesma e evitarei ao máximo os spoilers dos jogos, já que esse é um artigo para incentivar os outros ao jogar e não para entregar o enredo de mão beijada (mesmo que só precise "googlear" um pouco para ver o final de cada jogo).

Shin Megami Tensei III: Nocturne


Esse foi o primeiro título a ganhar o nome “Shin Megami Tensei” no ocidente. E graças ao seu sucesso, todas as ramificações da franquia também receberam esse subtítulo em seus lançamentos ocidentais (melhor explicado em um parágrafo posterior).

O jogo começa com um jovem garoto (que pode ser nomeado da forma que melhor lhe apetecer) indo visitar sua professora doente e é pego em um apocalipse. Ao recobrar a consciência, em um mundo devastado, ele descobre que agora é um demônio com um coração humano. Se a situação já era desesperadora, ela piora a cada momento em que mais informações sobre o que é esse apocalipse e  sobre qual será destino do mundo são reveladas.

Nocturne é um Shin Megami Tensei em sua plenitude. Com o sistema de conversação com demônios dos títulos anteriores, um sistema de fusão de demônios e um clima sombrio e ao mesmo tempo cativante, o game conta a história utilizando muito mais o cenário e os NPCs do mundo do que a partir de falas e mais falas em uma história principal. Esse título estreou o sistema de lutas chamado de “Press Turn System”, que consiste em acertar os pontos fracos dos adversários para ganhar turnos extras (além de causar danos extras) ou então perder turnos caso acerte um ataque ineficaz. O interessante é que o inverso também é válido, então um adversário também pode abusar disso e acabar exterminando seu time em um turno, caso dê azar.

Esse jogo é o favorito de muitos fãs da série e é altamente recomendado a ser jogado por qualquer fã de RPGs. Ele possui algumas curvas de aprendizagem mais íngremes que o comum (Matador, estamos falando de você). Só que a experiência geral é recompensadora. Nocturne é o único jogo da série principal a ser totalmente em 3D e tem uma trilha sonora excelente, que foi feita principalmente por Shoji Meguro.
Infelizmente o game só está disponível para o PlayStation 2, que também tem uma versão de PS2 Classics para PS3. Só que essa versão apresenta alguns problemas de performance (mas ainda é possível jogar sem maiores dores de cabeça).

Shin Megami Tensei IV 


Aproveitem que o quarto título da série é para Nintendo 3DS e sempre está em alguma promoção na eShop (Eu analisei o jogo aqui para quem quiser dar uma olhada). O jogo é de excelente qualidade e continua com tudo o que Nocturne começou. Pela capacidade do console, as lutas ficaram todas em 2D e em primeira pessoa, enquanto a navegação pelas dungeons continuou em terceira pessoa, assim como Nocturne. O jogo todo foi feito com suas limitações em mente, que criam cenas e mais cenas abusando do “contar” em relação ao “mostrar”, para trazer a tona momentos pesados e perturbadores que ficariam muito fortes caso fossem apresentados graficamente.

Neste jogo jogamos com Flynn (que, como de costume, pode ser renomeado), um garoto que se tornará um samurai do Reino de Mikado. A tarefa de um samurai é utilizar e lutar contra demônios para proteger o reino. Durante uma das primeiras missões de Flynn, ele conhece o personagem “Black Samurai” que parece ser capaz de transformar outras pessoas em demônios. Como todo jogo da série principal, ele se passa em Tokyo, e a forma como a cidade entrará aqui é, no mínimo, diferente e revelará muita coisa sobre o mundo do jogo.

Se Nocturne é a série em sua plenitude, Shin Megami Tensei IV continua esse legado. Apesar dos problemas existentes no jogo, por ele ter sido desenvolvido em um portátil, o jogo mantém todas características da série principal e continuam sendo uma ótima primeira aventura em um MegaTen de raíz. Além disso, o game possui o melhor sistema de fusão de demônios da série toda, que permite uma grande abrangência de resultados (o que o torna divertido por si só), e herda o “Press Turn System” de Nocturne. Graças as suas batalhas em primeira pessoa, o jogo se torna muito mais rápido. A grande maioria das cenas possui uma dublagem de qualidade, que junto com as músicas feitas por compositores mais novos na série, fazem uma experiência audível de qualidade e diferente dos outros títulos.

Shin Megami Tensei: Digital Devil Saga


Se a puxada Pokémon não é muito o seu forte e você prefere uma equipe de pessoas igual ao um Final Fantasy da vida, "Digital Devil Saga" pode ser seu experimento para ver se a ambientação de um MegaTen lhe convence. DDS continua utilizando o “Press Turn System”, e para suprir a falta de flexibilidade causada por uma equipe fixa, aqui entra um sistema em que se pode escolher qualquer habilidade aprendida em qualquer momento do jogo.

A história se passa em “The Junkyard”, um local onde diversas tribos estão sempre em guerra. No meio disso, encarnamos em Serph (nome fixo dessa vez), líder da tribo Embryon. Em uma das lutas dessa tribo, uma cápsula estranha aparece no campo de batalha e emite uma energia que acaba transformando todas as pessoas de Junkyard em demônios que sentem a mais profunda necessidade de devorar uns aos outros.

Esse título tem uma grande associação com a religião hindu e é um ótimo meio termo entre a série Persona e a série principal. DDS serve de bom jogo transitório entre as duas partes da franquia. Aqui há uma boa caracterização de personagens por meio de conversas, mas sem as toneladas de texto da série Persona. E o mundo do jogo continua fazendo um grande papel (um dos melhores, na minha singela opinião) para situar o jogador.

Digital Devil Saga também saiu somente no PlayStation 2 e está disponível na linha PS2 Classics do PS3 (só que dessa vez eu não recomendo de jeito nenhum essa versão, já que ela roda em cerca de 60% da velocidade natural do jogo e tem problemas na sincronização no som). DDS também tem uma continuação mais do que direta (que foi planejado para ser um jogo só) chamada de Digital Devil Saga 2.

Shin Megami Tensei: Persona 3


A maioria das pessoas acabam conhecendo Shin Megami Tensei pelo seu primo Persona (não sou exceção a regra). E acho que dentro dessa série spin-off, Persona 3 é o mais acessível (a jogabilidade de Persona 1 e da duologia Persona 2 é bastante datada) e ainda retém boa parte do que a série "Shin Megami Tensei" faz.

Mas, antes de tudo, existe um problema em se acostumar com Persona 3, como um bom representante de MegaTen. Porque só aqui (e em Persona 4) vemos os amados Social Links, momentos do jogo que parecem um “datesim” com a função de criar vínculos com outras personagens. Toda essa exposição é atípica da série (como já citado várias vezes), que gosta de contar mais pelas ações do que pelas palavras. Isso pode acabar criando um tom de aproximação menos amistoso com os outros títulos citados anteriormente.

Saindo desses adendos, Persona 3 é um excelente jogo. Com uma história densa e bastante reflexiva, o jogo tem como temáticas principais a morte, a mudança e a necessidade de fazer escolhas. E como o enredo é centralizado em um elenco de adolescentes, tipicamente conhecidos por estarem em uma fase de transição e com emoções intensificadas, essa junção toda acaba saindo com um gosto diferente e interessante.

Enquanto a série principal possui demônios propriamente ditos, aqui eles são personas (mesma aparência mas com uma execução muito diferente). Personas são, de acordo com a psicologia e de uma forma resumida, uma personalidade que construímos para nos mostrar ao mundo. Em Persona 3, elas possuem grande relação com as cartas de arcana e você, como personagem principal, é representado pela arcana maior The Fool (O Louco). Você é o único com a capacidade de mudar de personas, enquanto as outras pessoas da sua equipe continuam com personas fixas o resto do jogo. Com essa temática mais vaga, a negociações com demônios caem fora e entra um mini-game de cartas para conseguir novas personas para o seu acervo. E mesmo assim, o sistema de fusão continua sendo tão importante aqui quanto na série principal. Já as lutas daqui funcionam no sistema de “One More”, que é um “Press Turn System” simplificado onde se deve derrubar um inimigo (atingindo um ataque crítico ou uma fraqueza) para que se ganhe mais uma ação.

Persona 3 tem três versões diferentes e duas delas possuem benefícios diferentes. A primeira dessas duas é uma “versão melhor” do jogo original e ganhou o nome Persona 3 FES (que está disponível para PlayStation 2 e através do PS2 Classics para PS3 e rodando perfeitamente). O jogo possui um epílogo da história original chamado de “The Answer”. A segunda versão é Persona 3 Portable, lançado para PSP. O jogo possui um “Girl’s Side”, que permite ver a história do jogo através dos olhos de uma protagonista feminina. Nessa versão, também é possível controlar os personagens da equipe. O porém dela é que o jogo perde todas suas cutscenes animadas e os gráficos dos personagens não aparecem, assemelhando-se muito mais a uma visual novel. Fora que o jogo também não possui o epílogo presente na versão FES.

“Pera aí! Mas Persona não é Shin Megami Tensei!”

Grita o incauto.
Bem, em partes isso é verdade. Mas vamos esclarecer essa história antes para quem não a conhece: Como dito em outrora, Nocturne foi o primeiro "Shin Megami Tensei" a ser lançado aqui. Acontece que o sucesso dele foi tanto, que a Atlus decidiu colocar o subtítulo de “Shin Megami Tensei” em qualquer jogo que tivesse conexão com Nocturne. Ou seja, todos os jogos que apresentasse os demônios vistos e associados a Shin Megami Tensei. Persona (o primeiro) é conhecido no Japão como Megami Ibunroku Persona (algo como Histórias Contadas Sobre Outra Deusa Persona), provavelmente fazendo alusão ao Megami Tensei (Renascimento da Deusa) da série principal.

Só que Persona apresenta os mesmos demônios (aqui como Personas) de Megami Tensei. E como uma personagem de um MegaTen de raíz (Shin Megami Tensei: if) aparece no mundo de Persona e de Persona 2, acho justo considerar tudo uma mesma franquia. Além disso, a maioria dos outros MegaTen não possuem um nome que os liga diretamente a Shin Megami Tensei. SMT: Digital Devil Saga é chamada de Digital Devil Saga: Avatar Tune no Japão e SMT: Devil Survivor é chamado de Megami Ibunroku Devil Survivor (colocado na mesma sub-série de Persona). Então é bem mais cômodo aceitar tudo como derivações de MegaTen, já que eles tem vários elementos em comum.

Espero que tenham gostado dessa viagem rápida por alguns títulos dessa série. Não deixem de jogar alguns deles antes de se aventurarem no novo RPG que está para chegar ao Wii U. Sou suspeito ao falar disso, mas "Shin Megami Tensei" é uma série com muitos jogos bons e vale a pena ser apreciada em sua plenitude. Se viu qualquer coisa errada ou queira acrescentar algo (porque sempre dá para falar de MegaTen), a área de comentários está aí para conversamos.

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